terça-feira, 15 de abril de 2008

Crónica de um estudante “à beira de um ataque de nervos”...



António nunca estivera tamanha “pilha de nervos”.
O 3º período escolar correra como uma locomotiva desgovernada para o fim do ano lectivo e testes e trabalhos sucederam-se, com tal galope, que o tempo para queimar pestanas parecera sempre diminuto ou insuficiente.
Matérias, conteúdos, teses, filosofias, textos, fórmulas, dúvidas, perguntas, explicações tinham vindo uns atrás dos outros, como contas de um rosário que não sabia se teria tempo para poder ou saber “rezar” com convicção.
Tinha de concluir o 12º ano. Esse é que era o ultimato!
Tinha (pensava bem) de superar-se e essa era a realidade imperativa, forçosa, urgente, aquele o momento, aquela a oportunidade, aquela a incontornável decisão.
A experiência do trabalho lá fora, “no duro”, o das “mãos calejadas”, o de “sol-a-sol”, mal pago, com mais obrigações e constrangimentos que direitos e liberdades, não poderia apanhá-lo mais vez nenhuma.
Tinha, repetia-se-lhe no cérebro, de prosseguir estudos, de “cultivar-se”, como dizia a avó, de “fazer” um curso, de “arranjar canudo”, embora não ignorasse que uma licenciatura, nos dias que corriam, já não era garantia de trabalho, tão preocupantíssimos eram os números de desemprego qualificado.
Contudo, acreditava que a formação superior sempre poderia ser uma “mais-valia” na corrida ao engarrafamento do mercado de trabalho.
Quem sabe se não faria a diferença?
O pai dissera-lhe que o dinheiro não abundava, que não se podia dar ao luxo de repetir, ano após ano, que a vida estava difícil para todos, enfim, e todas essas verdades cruas, que não negava, pareciam-lhe cair, àquela hora de todas as decisões, sobre os ombros como um prédio em derrocada.
Era “agora ou nunca”, “seja o que Deus quiser”, pensou, em voz alta para com a sua vontade-própria.
“Assim como assim”, estudara.
Se não tivesse estudado e “chumbasse”, pesar-lhe-ia na consciência e teria de viver com a culpa e o remorso, mas já conhecia, demasiado bem, esses dois intrusos da alma de outros arraiais.
Este ano não se repetiria, prometera.
Ocorreu-lhe, então, enquanto soava a campaínha para o último exame nacional do ano, a frase de Séneca: “SÓ NÃO HÁ BONS VENTOS PARA QUEM NÃO SABE PARA ONDE VAI.”